quinta-feira, 28 de maio de 2015

Crônica

A Bola     
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. 
Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. 
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa. 
- Como é que liga? - perguntou. 
- Como, como é que liga? Não se liga. 
O garoto procurou dentro do papel de embrulho. 
- Não tem manual de instrução? 
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros. 
- Não precisa manual de instrução. 
- O que é que ela faz? 
- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela. 
- O quê? 
- Controla, chuta... 
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
- Nada, não. 
O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. 
O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina. O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto. 
- Filho, olha. 
O garoto disse "Legal" mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar. 
Luiz Fernando Veríssimo 
Atividades
1) O primeiro parágrafo do texto compara a primeira bola do pai, que ele ganhara de presente na infância, com a bola que ele comprou para seu filho. Quais as principais diferenças entre esses dois objetos?

2) O que teria levado o menino a fazer perguntas como "Como é que liga?", "Não tem manual de instrução?" ou "O que ela faz?" Será que, há alguns anos, os brinquedos propiciavam esse tipo de pergunta?

3) Observe o seguinte fragmento do texto: "O garoto agradeceu, disse 'Legal' de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova ao lado, manejando os controles de um videogame". A reação do menino, ao receber o presente evidenciou empolgação? Por quê?
4) Imagine uma possível reação caso o menino tivesse, de fato, gostado bastante do presente.
5) No antepenúltimo parágrafo do texto, o pai faz uma outra tentativa para cativar a atenção do filho. O que ele fez? Ele obteve sucesso? Qual a frase do texto que evidencia a reação do menino?

6) O texto é narrado em 1ª ou 3ª pessoa? Justifique:

7) O texto "A Bola" é uma crônica. Por quê? É uma crônica humorística ou reflexiva?
8) Qual é o ambiente, ou seja, o espaço onde a história se desenvolve? Justifique com trechos do texto

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