1ª Crônica - Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde,
esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom
ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio
aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da
escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar
parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se
iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as
aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate —
meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela,
não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia
furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora,
por favor. (Dalton Trevisan)
1- Quem
nos conta a história? Quem está fazendo falta? Por quê?
2- Qual
o fato do nosso cotidiano que podemos perceber incluso na crônica?
3- Podemos
classificar essa crônica como lírica ou humorística? Por quê?
2ª Crônica - Pneu furado
O carro estava encostado no meio-fio, com um
pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma
moça muito bonitinha.
Tão bonitinha que atrás parou outro carro e
dele desceu um homem dizendo "Pode deixar". Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? - perguntou o homem.
- Não - respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho -
disse o homem - Você tem estepe?
- Não - disse a moça.
- Vamos usar o meu -
disse o homem.
E pôs-se a trabalhar,
trocando o pneu, sob o olhar da moça.
Terminou no momento em
que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de
boca aberta, vendo o ônibus se afastar.
Dali a pouco chegou o
dono do carro.
- Puxa, você trocou o
pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu... Eu não posso
ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei
lá.
1- Por que o rapaz decidiu
trocar o pneu do carro? Qual era sua intenção?
2-Qual
o fato do nosso cotidiano que podemos perceber incluso na crônica?
3-Qual o fato inusitado que
acontece na crônica?
4-Podemos classificar essa crônica como lírica
ou humorística? Por quê?
3ª Crônica - Pai não
entende nada
_ Um biquíni novo?
_ É, pai.
_ Você comprou um no ano passado!
_ Não serve mais, pai. Eu cresci.
_ Como não serve? No ano passado
você tinha 14 anos, este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.
_ Não serve, pai.
_ Está bem, está bem. Toma o
dinheiro. Compra um biquíni maior.
_ Maior não, pai. Menor.
Aquele pai, também, não entendia
nada.
1- Podemos classificar essa
crônica como lírica ou humorística? Por quê?
2- Interprete: “_Está bem, está bem. Toma o dinheiro.
Compra um biquíni maior/ _ Maior não, pai. Menor.”
3- Qual o fato do nosso
cotidiano que podemos perceber incluso na crônica?
4ª Crônica - Conto de
fadas para mulheres do séc. 21
Era uma vez uma linda moça que perguntou a um lindo rapaz:
- Você quer casar comigo? Ele respondeu:
- NÃO!
E a moça viveu feliz para sempre, foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes, visitou muitos lugares, foi morar na praia, comprou outro carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com as amigas sempre que estava com vontade e
ninguém mandava nela.
O rapaz ficou barrigudo, careca, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma MULHER.
1- Qual a
crítica feita nessa crônica?
2- Por que a
Moça ficou tão feliz?
3- Você acha que
o casamento de certa forma tira a liberdade da mulher? Comente.
4- Você
concorda com a última frase da crônica? Comente.
Produção
textual
Agora é a sua vez!
Ao ler crônicas, você
conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu o texto. Tão interessante
quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua forma de ver e questionar o
mundo ao seu redor. Como? Escrevendo sua própria crônica. Além de observar mais
atentamente as pessoas e situações que fazem parte do seu dia-a-dia, você
estará exercitado sua redação ao tentar construir textos claros e, ao mesmo
tempo, criativos.
As etapas abaixo
podem servir como um guia caso você esteja começando a se aventurar pelo mundo
da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu próprio processo criativo e o
texto surgirá de forma natural, sem que seja necessário seguir etapas
definidas.
Etapas para escrever sua crônica:
1. Escolha algum
acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como
jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar,
abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a
infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma
crônica.
É importante que o
tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação
interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode
ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.
2. Muito bem. Agora
que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular algumas
opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas ideias antes de
começar a crônica propriamente dita.
Frases como as
que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista:
"Quando penso nesse fato, a primeira
ideia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
Como você deve ter
notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de
ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica:
uma visão pessoal de um evento.
3- Agora que você já formou opiniões sobre o
acontecimento escolhido, é hora de escrever sua crônica. Seu ponto de partida
pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao longo do texto.
Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo,
pois é isso que faz de um escritor um bom cronista.